quinta-feira, 23 de julho de 2009

Vida ausente



A vida em algumas situações parece parar no chão, como chicletes jogados pelas crianças saindo da escola, ou como pedras no meio do caminho tão faladas por Drummond.
Em certos momentos a fluidez do cotidiano que tanto nos incomoda não parece estar mais lá. O barulho dos vendedores de frutas passando pela rua , o homem do caminhão apertando a buzina no ritmo acelerado de uma música, gente correndo atrás do ônibus, o som da luz vermelha do carro da polícia.

Toda fúria e celeridade da vida se acomodoram no sofá da sala. Ao lado uma mesinha verde de madeira, no centro um baralho e o chá gelado dentro de uma caneca preta de anos a fio. O pijama no corpo o dia todo representa sinais de poucas passagens pelo banheiro seco. A casa tão solitária se esconde no meio de tantas outras, a cor vermelha do muro já não chama atenção dos vizinhos, que meses atrás, elogiavam o bom gosto da pintura. O jardim tão bem cuidado, agora se enche de folhas secas caídas da árvore em frente ao portão.


E a vida que ali no sofá de couro rasgado pelo tempo era tão enraizada, recebe o sol que entra todos os dias da janela colorida, as vezes tímido, outras estonteantes.
Na mesinha verde de madeira a flor que não tinha forças se movimenta todo amanhecer do dia, remexendo suas folhas verdes no balanço da música tocada pela vitrola marrom.
O olhar do velhinho de cabelos brancos abraça a vida. E a vida que ficou uns tempos ausente volta a abraçar o velhinho.