quinta-feira, 15 de agosto de 2013

O mergulho no concreto - O corpo ferido

Chuva fina, boba. Os dedos congelados e a palavra escrita. A única palavra que me restou e com ela quero viver pra sempre. Palavras fugidias, obviamente, mas, por hora, confio totalmente nelas, de resto... Restos. Escrevo e sinto o silêncio. São Paulo da garoa cinza. E me calo, calo o outro para não ser ferida. E tudo tem me ferido, sim: por dentro, por fora, nos buracos do meu corpo, embaixo das unhas, até nos cotovelos. E já dizia Cremilda naquela sala gelada, na USP: afeto. 
Sinto-me violentada...  não há de ser nada não. 



segunda-feira, 12 de agosto de 2013

O mergulho no concreto - Cinco linhas


A onda bate na cara sem dó de mim. Até o mar parece cruel. Um cansaço.
São Paulo da não mansidão. Perco-me no trem mesmo sabendo o caminho, mesmo
sabendo de mim. Eu vou te engolir, cidade-dinheiro. Na testa, escrevo letras com uma caneta
invisível - CPTM. Fui marcada como os bois do interior de Minas. Eu queria mesmo era encontrar
com a Gal Costa e tomar um bom errado vinho. E dizer: absurda, cidade absurda. Que bad trip.



segunda-feira, 5 de agosto de 2013

O mergulho no concreto - São Paulo faz escrever


Escrevo lentamente. Aos poucos as palavras escondidas aparecem. Algumas sem ver, outras
sem sentir, outras tantas escapam. Algumas chegam em cheiros e cor. 
Depois de escrever um livro, depois da volta, minhas mãos morreram. A morte do autor e a chegada do leitor. 
Confesso que minhas mãos precisavam de um tempo. Ontem elas nasceram, mas envelheceram. Daqui a pouco 26... 
Não leio "Depois da Volta". Os dias correm e meu livro parece morto, uma produção artística qualquer. O bonito é que me aproximo dele e já não tenho medo das palavras e do que não contei, do que faltou.
Ele está aqui e o que faltou eu sei não sei. E a cada dia agradeço aos buracos negros e as lacunas da escrita. Esse é o verdadeiro mistério, o que a escrita não alcança. São Paulo faz escrever.
Faz frio, não o frio parado de Ouro Preto. Um vento leve e úmido bate na garganta. Uma garoa boba.
Sempre quis morar aqui e cá estou. 
Lembro-me da feira perto da casa da dona Lídia, minha avô. A feira da rua Boa vista, em Santo André.
E nas feiras de São Paulo o que não falta é pastel. Pastel feito pelos japoneses, chineses, coreanos... acompanhados pelos saquinhos de vinagrete. Aí você abre o saquinho e joga o vinagrete dentro do pastel. O bom mesmo é comer essa mistura, tomar um caldo de cana e sentar ali mesmo, próximo a panela branca cheia de óleo velho numa cadeira de plástico velha suja.
No início da feira, aquele cheiro de peixe. Tampava o nariz, mas o cheiro passava sem pedir licença.
Depois, as verduras e frutas. Homens e mulheres gritando, um sotaque bruto, mas simpático.
Nunca chegamos até o final da feira. O fim não parecia interessante. Eu gosto mesmo é de goiaba vermelha e você?
Hoje corri numa esteira, conheci uma academia paulistana e a Dilma, mulher baiana. Academia é tudo igual. Eu não gosto, mas o corpo estava lá. Só precisava correr, correr, correr, independente do lugar. 3 km e só. É pouco. 40 Minutos. E penso: tudo bem Natália. Tudo bem...
Queria escrever sobre o bolinho de bacalhau ou do sanduíche de mortadela do mercado Municipal. Amanhã, talvez. Tenho tempo, posso caminhar. 

#omergulhonoconcreto

domingo, 4 de agosto de 2013

O mergulho no concreto - A cidade sem freio

Pela manhã, nos dias comuns de um passado próximo, sonhava com o concreto que beijava o céu. Eis, São Paulo. 
Pela noite, o que habita as vias largas da cidade de São Paulo são os carros e a poluição que entra acelerada nos buracos do nariz. A outra poluição, aparece no canto da unha, um resquício concreto. 
Em cada ponto da cidade densa, um protagonista.
Ora a espuma branca que de tão branca, engana. Ora, uma viga de concreto gigantesca pronta para a estreia, preparada para ficar de pé, na vertical.
A madrugada foi preenchida pelo barulho insuportável de vozes mil. 
Paramos numa padaria que nunca dorme. Não há férias para os copos, talheres e pratos. E nossas bocas também nunca saem de férias, sempre mastigando algo, comendo a vida.
A pizza chega rápido, o copo com gelo também. Queria comer devagar, pausadamente, no entanto, parece ser impossível. Quanta ansiedade e a madrugada muda de lugar, do silêncio para o grito, o ruído
que invade. 
Como mergulhar no concreto? E agora?
Agora, tudo ou nada. Ou como São Paulo... ou ela me come.
No metrô, os sapatos solitários. Tanta gente, QUANTA TAMANHA solidão. 
Difícil ver alguém de chinelo na minhoca de ferro. Realmente é melhor esconder os pés, penso.
A cidade grande é violenta, ela afeta o corpo todo. 
E pensar que criamos esse monstro que cresce sem direção e sensibilidade.
Isso é só o começo. 


#omergulhonoconcreto