segunda-feira, 5 de agosto de 2013

O mergulho no concreto - São Paulo faz escrever


Escrevo lentamente. Aos poucos as palavras escondidas aparecem. Algumas sem ver, outras
sem sentir, outras tantas escapam. Algumas chegam em cheiros e cor. 
Depois de escrever um livro, depois da volta, minhas mãos morreram. A morte do autor e a chegada do leitor. 
Confesso que minhas mãos precisavam de um tempo. Ontem elas nasceram, mas envelheceram. Daqui a pouco 26... 
Não leio "Depois da Volta". Os dias correm e meu livro parece morto, uma produção artística qualquer. O bonito é que me aproximo dele e já não tenho medo das palavras e do que não contei, do que faltou.
Ele está aqui e o que faltou eu sei não sei. E a cada dia agradeço aos buracos negros e as lacunas da escrita. Esse é o verdadeiro mistério, o que a escrita não alcança. São Paulo faz escrever.
Faz frio, não o frio parado de Ouro Preto. Um vento leve e úmido bate na garganta. Uma garoa boba.
Sempre quis morar aqui e cá estou. 
Lembro-me da feira perto da casa da dona Lídia, minha avô. A feira da rua Boa vista, em Santo André.
E nas feiras de São Paulo o que não falta é pastel. Pastel feito pelos japoneses, chineses, coreanos... acompanhados pelos saquinhos de vinagrete. Aí você abre o saquinho e joga o vinagrete dentro do pastel. O bom mesmo é comer essa mistura, tomar um caldo de cana e sentar ali mesmo, próximo a panela branca cheia de óleo velho numa cadeira de plástico velha suja.
No início da feira, aquele cheiro de peixe. Tampava o nariz, mas o cheiro passava sem pedir licença.
Depois, as verduras e frutas. Homens e mulheres gritando, um sotaque bruto, mas simpático.
Nunca chegamos até o final da feira. O fim não parecia interessante. Eu gosto mesmo é de goiaba vermelha e você?
Hoje corri numa esteira, conheci uma academia paulistana e a Dilma, mulher baiana. Academia é tudo igual. Eu não gosto, mas o corpo estava lá. Só precisava correr, correr, correr, independente do lugar. 3 km e só. É pouco. 40 Minutos. E penso: tudo bem Natália. Tudo bem...
Queria escrever sobre o bolinho de bacalhau ou do sanduíche de mortadela do mercado Municipal. Amanhã, talvez. Tenho tempo, posso caminhar. 

#omergulhonoconcreto

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