quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

O livro de ficção da vovó

- Natália, a campainha tá tocando? 
- Olho pra cima e tento escutar.
- Vó, não tá tocando.

- Natália, vai lá no portão e vê se tem alguém querendo entrar?
- Ok, vó.
  Saio da sala, fico escondida na cozinha por trinta segundos.
- Vó, não tem ninguém lá.
- Tudo bem.

- Natália, sua mãe já chegou?
- Vó, minha mãe tá na Serra do Salitre, ela vai chegar amanhã bem cedinho.
- Tá bom.

Depois de cinco minutos.
- Natália, fala pra sua mãe sair da vizinha e parar de...
- Vó, a minha mãe tá na Serra do Salitre...
- Ah, tá bom.

- Natália, quero ir ao banheiro.
- Não tranca a porta vó!
E aí a vó tranca a porta.

Dez horas da noite.
- Natália, sua mãe já chegou?
- Vó, a minha mãe tá na Fernão Dias, dentro do ônibus.
- Você jura pela saúde da sua mãe?
- Eu juro pela saúde da nossa família.
- Você tá mentindo pra mim Natália?
- Vó, eu tô falando a verdade.
- Ah, tá bom.

E ela dormiu. 

O livro de ficção da minha avó é mais legal que o meu livro de ficção. A história real que a minha avó tem na cabeça é boa! Tem soldado, tem bombeiro, pessoas do mal e até vacas. Tem a morte, tem gente que fica na vizinha confabulando sobre nós. Tem até o vô que morreu já faz tempo. Tem sequestro e vozes que falam dentro dela.
Minha avó vive o real, eu é que tô delirando.