quarta-feira, 23 de março de 2011

Na garupa

Atravessei a cidade na garupa de uma bicicleta. 
Depois de quase dez quadras comecei a sentir dores na bunda e nas pernas.
Era noite quando saímos de casa. Os carros ainda estava circulando. As pessoas caminhavam de maneira acelerada depois de mais um dia de trabalho. 
Passamos pela catedral e logo em seguida adentramos a praça Moreno. 
As crianças brincavam de esconder, e como de costume, algum adulto seguia seus passos, demonstrando  proteção.
Uma criança passando perto de outras crianças. Há quanto tempo não pegava uma carona tão infantil?. 
Saímos de uma reunião e conversávamos sobre projetos de vida. Por fim, estávamos refletindo sobre nossas palavras e pensando se havia tanta firmeza em nossas vozes. Eu não quero ficar cambaleando, acreditei e acredito na nossa primeira prosa cotidiana. Creio em nossos sonhos diários.
Meus pés arrastavam no chão. E fui assim até a praça Rocha - com a coluna meio curvada e as mãos agarradas numa pequena parte do banco. 
Agradeci a carona. E ainda ficamos no ponto de ônibus conversando. 
O ônibus não passou. Peguei um táxi. 

domingo, 20 de março de 2011

DOMINGO = SAUDADE



Minha saudade se acalma ouvindo nossas músicas, aquelas que ouvimos todos os dias aí nessa terra iluminada
por nós mesmos. 
Eu sinto falta das nossas expressões, do nosso modo rasgado de dizer as coisas.
E não há língua mais bonita que a nossa, não há.
E não há língua mais dura, porque as dificuldades também se encontram nas palavras. 
Quero lembrar todos os dias desse nosso Brasil que sofre, mas que não perde o passo.
E tem uma palavra que é especial, SAUDADE.
Por que essa sim é uma palavra naturalmente brasileira. E se não for, quero que seja.

"Te echo de menos" BRASIL, ou melhor, SAUDADE Brasil. A segunda é melhor, porque minha boca
enche de orgulho! 

Para mim, o domingo continua vazio. Posso estar em qualquer país, domingo é dia de drama!

sexta-feira, 18 de março de 2011

Uma lasquinha do meu livro


Queria me rasgar até não poder mais. Estou imóvel, não consigo fazer nada. O banheiro está longe, tudo está longe de mim. Não há pessoas nem baratas. Não escuto o barulho da vida. Tenho um caderno e uma caneta. Eu gosto de escrever. Tenho ciúmes das palavras, assim como aquele ciúme que sentia por... tenho cuidado com elas. Não vou escrever qualquer coisa. Que confusão. Não sei que dia cheguei, por que estou aqui. Que diabos. As janelas não querem abrir, elas não se movimentam. Que sufoco.
Lembro de uma festa, estavam todos fantasiados. Eu bebia e fumava incansavelmente. Nada me fazia parar. Aquelas máscaras rodavam. As pessoas estavam enlouquecidas ou era eu? Lembro que estava no banheiro com alguém. Não sei se era uma mulher, não recordo. Mas num estalo a porta se abriu, me vi no espelho. Depois sai dizendo que não havia feito nada, que estava apenas lá. Mas não adiantou, eu lembro de uma palavra. Verdade, verdade, verdade. Fiz alguma coisa, mas não lembro. E se eu descobrir o que aconteceu, posso entender por que estou aqui. E se não for isso... estou agoniada. Mas posso contar a minha história desde o começo. Talvez chegue nesse ponto e descubra por que estou aqui.

Nasci num desses hospitais. Minha mãe dizia que eu era feia pra burro. Tinha orelhas muito grandes, um nariz vermelho. E tenho certeza que cheguei a este mundo gripada e com febre. Minha boca era pequena, ela tinha um biquinho na parte superior um pouco maior que das outras crianças do hospital. A única coisa que salvava eram meus olhos verdes. Mas ninguém conseguia ve-los, porque eram pequeninos demais.
É muito dificil escrever. Não tenho ninguém para compartilhar e muito menos perguntar algo sobre minha infância. Será que escolhi estar aqui? Meu deus, estou aqui por que quero? Não seria capaz de isolar-me dessa maneira. Eu devo ter feito alguma coisa grave. Eu matei alguém. Agora esta explicado.
Estava no banheiro com uma mulher, matei essa mulher e sai dizendo que não tinha feito nada. Então é por isso que recordo da palavra verdade. Estavam todos me dizendo que a verdade seria o melhor caminho, que a mentira era um lugar sujo de se hospedar. Foi isso? Eu quero sair daqui, não consigo abrir as portas. Já sei, vou gritar, tenho que fazer barulho. Não adianta. Ninguém me escuta. Vou escrever uma carta e coloca-la embaixo da porta, alguem vai passar e ler. Perfeito.

Olá.
Não posso me identificar, porque não lembro o meu nome e muito menos minha fisionomia. Faz muito tempo que não olho no espelho. Alguém me colocou aqui, eu acho.
Não tenho um vocabúlario muito rico, então essa carta será bem simples. Por que estou falando isso.
Que confusão, é apenas uma carta de socorro, ok.
Vamos lá.
Não sei quantos dias estou aqui dentro. Acordei nesta cama e tudo está fechado. Também não sei se estou sonhando ou se essa é a minha realidade. Preciso que alguma alma de Deus me tire daqui.
Se você pegar essa carta avise alguém, chame qualquer pessoa.
Obrigada

terça-feira, 15 de março de 2011

Sonhei com o amor

Eu sonhei com o amor.
Ele estava na minha frente. 
Saímos de casa pela madrugada fria e caminhamos até o bosque.
Não senti dores fortes nas pernas porque passamos por ruas planas.
Sentamos num banquinho de madeira e acendemos duas velas, uma para
mim e outra para ele. Logo em seguida fumamos cigarros coloridos.
Falamos da vida, do ar que cheirava vida, da terra úmida que
pulsava vida.
Falamos da morte, queríamos morrer juntos. Eu e o amor.
Pedimos água e um vinho chileno. E para comer, pipoca.
Falamos também do vazio, de estar em outro lugar e sentir saudade de outro lugar.
Falamos de nossas roupas e como o frio nos deixa elegantes, ao mesmo tempo misteriosos.
Falamos de nossos pais, de como somos distantes de nossas famílias. E não sabemos quando vamos nos dar conta... não sabemos se vamos acordar um dia e sentir aquele estalo. Mas todos vão estar mortos por dentro. Ninguém vai querer o nosso despertar.
Falamos de sexo e das vezes que chorava por somente tocar.
E como esse tocar era significativo. Não era somente fazer, mas havia uma invasão que não suportava.
E o amor também me disse que essa sensação lhe invadia. 
Falamos do nada, falamos nada com nada.
Falamos das formigas que passavam na rolha caída no chão.
Vixi, falamos de tudo que não podemos enxergar. Mas se sabemos, então podemos enxergar. 
Terminamos o vinho e fomos embora. Eu e o amor.
Disse para ele: "para mim essa foi a verdadeira noite de amor"
Obrigada.


sábado, 12 de março de 2011

Todo cambia

Minha voz está diferente. 
Meu corpo e minha alma também.
Tenho saudade da minha língua, aquela que escutei quando sai da barriga de minha mãe. 
Quando falo espanhol pareço ser outra, e sou, porque se não for outra, não faz sentindo estar aqui.
Me sinto uma criança aprendendo a falar e se comunicar com outras.
Nos primeiros dias estava perdida, como um navio em alto mar sem direção, sem referências. Somente meu coração falava. 
 Depois, a cada segundo me sentia melhor e mais preparada para falar com alguém.
Não é fácil, tem que ter força. 
Mais do que nunca, agora sei que saber uma língua, seja ela qual for, nos transmite segurança.
Agora entendi a música "Língua" cantada por Gal Gosta - "a língua é minha pátria e eu não tenho pátria".
Minhas mudanças são sempre doloridas, mas eu sei que elas ficam tranquilas depois de um tempo. 
Estou feliz , em poucos dias conheci pessoas maravilhosas. 
Meu coração não se engana.
Aqui tem gente do mundo inteiro. Todos os dias brincamos uns com os outros.
E claro Maradona e Péle são os tops da lista. Ah, Messi também.
Mas tenho lá meus argumentos. São poucos, mas valem.
Quando estava no Hostel, tinha gente da França, Portugal, Chile, Inglaterra, Colômbia, Brasil, Itália. Uma mistura louca de culturas. 
E quando falo que sou brasileira, todos gostam. E dizem que querem conhecer o Brasil, o Brasil, o Brasil.
Brasil, meu Brasil brasileiro!