sexta-feira, 18 de março de 2011

Uma lasquinha do meu livro


Queria me rasgar até não poder mais. Estou imóvel, não consigo fazer nada. O banheiro está longe, tudo está longe de mim. Não há pessoas nem baratas. Não escuto o barulho da vida. Tenho um caderno e uma caneta. Eu gosto de escrever. Tenho ciúmes das palavras, assim como aquele ciúme que sentia por... tenho cuidado com elas. Não vou escrever qualquer coisa. Que confusão. Não sei que dia cheguei, por que estou aqui. Que diabos. As janelas não querem abrir, elas não se movimentam. Que sufoco.
Lembro de uma festa, estavam todos fantasiados. Eu bebia e fumava incansavelmente. Nada me fazia parar. Aquelas máscaras rodavam. As pessoas estavam enlouquecidas ou era eu? Lembro que estava no banheiro com alguém. Não sei se era uma mulher, não recordo. Mas num estalo a porta se abriu, me vi no espelho. Depois sai dizendo que não havia feito nada, que estava apenas lá. Mas não adiantou, eu lembro de uma palavra. Verdade, verdade, verdade. Fiz alguma coisa, mas não lembro. E se eu descobrir o que aconteceu, posso entender por que estou aqui. E se não for isso... estou agoniada. Mas posso contar a minha história desde o começo. Talvez chegue nesse ponto e descubra por que estou aqui.

Nasci num desses hospitais. Minha mãe dizia que eu era feia pra burro. Tinha orelhas muito grandes, um nariz vermelho. E tenho certeza que cheguei a este mundo gripada e com febre. Minha boca era pequena, ela tinha um biquinho na parte superior um pouco maior que das outras crianças do hospital. A única coisa que salvava eram meus olhos verdes. Mas ninguém conseguia ve-los, porque eram pequeninos demais.
É muito dificil escrever. Não tenho ninguém para compartilhar e muito menos perguntar algo sobre minha infância. Será que escolhi estar aqui? Meu deus, estou aqui por que quero? Não seria capaz de isolar-me dessa maneira. Eu devo ter feito alguma coisa grave. Eu matei alguém. Agora esta explicado.
Estava no banheiro com uma mulher, matei essa mulher e sai dizendo que não tinha feito nada. Então é por isso que recordo da palavra verdade. Estavam todos me dizendo que a verdade seria o melhor caminho, que a mentira era um lugar sujo de se hospedar. Foi isso? Eu quero sair daqui, não consigo abrir as portas. Já sei, vou gritar, tenho que fazer barulho. Não adianta. Ninguém me escuta. Vou escrever uma carta e coloca-la embaixo da porta, alguem vai passar e ler. Perfeito.

Olá.
Não posso me identificar, porque não lembro o meu nome e muito menos minha fisionomia. Faz muito tempo que não olho no espelho. Alguém me colocou aqui, eu acho.
Não tenho um vocabúlario muito rico, então essa carta será bem simples. Por que estou falando isso.
Que confusão, é apenas uma carta de socorro, ok.
Vamos lá.
Não sei quantos dias estou aqui dentro. Acordei nesta cama e tudo está fechado. Também não sei se estou sonhando ou se essa é a minha realidade. Preciso que alguma alma de Deus me tire daqui.
Se você pegar essa carta avise alguém, chame qualquer pessoa.
Obrigada

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