terça-feira, 31 de agosto de 2010

Simples almoço

Cardápio do dia: blanquette de veau, de sobremesa - creme brûlée. Hoje acordei cedo, marquei um almoço em Ouro Preto. Imagine um restaurante repleto de quadros sobre o Renascimento e outras artes, cadeiras envernizadas de um marrom velho, um jazz refinado de Miles Davis, três relógios dourados daqueles que os números saltam o vidro, azeite da Grécia, taças verdes, vinhos e uma recepção de dar gosto. Os pratos brancos eram enormes, no entanto, pouca comida como manda os bons costumes. 

Camila Emílio ainda não tinha chegado, mas Beatriz (jornalista), Grasi (atriz) e eu, já estávamos lá esperando a arte-educadora aparecer. Próximo ao restaurante, via-se o departamento de Artes Cênicas da Universidade Federal de Ouro Preto, porém, não tinham muitos estudantes desse curso almoçando. Acho que eram engenheiros, biólogos, farmacêuticos ou coisa do tipo. Pelo menos foi a impressão que todas nós tivemos. Aguardamos mais um pouco e Camila chegou. Perguntei para ela: 
_ engraçado, esse restaurante sempre fica lotado? 
E ela respondeu num tom irônico: 
_ agora deu pra ficar assim, cheio de gente.

Achei estranho, mas não quis prolongar a conversa. Estávamos morrendo de fome, e nessas horas, não é bom ficar questionando sobre, até porque algumas pessoas quando sentem muita fome ficam estressadas. 

Camila sentou e logo pedimos o cardápio. Escolhi um vinho do Porto, Grasi tomou um suco e Beatriz como de costume, pediu um chá gelado de limão. Na mesa, falávamos sobre teóricos das artes, posteriormente, sobre a convergência das mídias (tema atual nos estudos do Jornalismo).  Neste momento, Beatriz tagarelava e tirava fotos para registrar aquele momento.

Parecia que estávamos em um mirante, da janela do restaurante se enxergava as montanhas lá embaixo e várias casas irregularmente dispostas.

Senti algo estranho, como um colapso de memória. Parecia não pertencer aquele lugar. O vinho já não era mais vinho, senti um gosto de coca-cola. O blanquette de veau se transformou em: arroz, feijão, batata e, novamente, feijão (só que branco). O suco da Grasi era suco, mas daqueles vagabundos e o chá da Beatriz nunca existiu. Não somos jornalistas, atrizes ou arte-educadoras, apenas estudantes. O restaurante não era o mesmo das primeiras linhas desse texto, mas sim, o RU (Restaurante Universitário) da UFOP. A fila rodava quarteirões.

Depois do almoço fomos para o mirante. O ar carregava cheiros, sorrisos, lábios. Aquele ar que compartilha vida.

Esse foi meu dia, um simples almoço!



  

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Para além do que é mostrado




O final de semana se resumiu em duas palavras - Ouro Preto. Uma cidade cercada por montanhas e, junto a elas, histórias que permanecem de geração em geração. Costumo dizer que Dom João VI e seus filhos ainda caminham por entre os becos escuros com seus cavalos brancos, e mais, que as pombas nunca morreram, são as mesmas vindas de Portugal. Quando ando pelas ruas, me sinto um flauner - um "vagabundo" expressão usada por João do Rio em, A alma encantadora das ruas) - sem lugar. É engraçado olhar para as casas, museus e igrejas, pareço não pertencer a nada. Uma confusão de séculos, revoluções e sofrimentos.

O agora de Ouro Preto se mistura a lan-houses, bares, cafés, restaurantes pomposos, estrangeiros, jóias e o outro lado da moeda, esquecido pelos reis democráticos, nem sequer é lembrado.
No ano de 2008, quando iniciei a faculdade de Jornalismo, fui ao Morro do Santana fazer um trabalho sobre o Festival de Jazz. Entrevistamos mais de quinze pessoas, poucas delas sabiam sobre o evento, que nesse mesmo ano teve apresentações gratuitas em lugares bastante conhecidos. Nos questionamos: para quem é o festival?

O fato é que, estamos naquela de "alta cultura" e "baixa cultura", ou seja, uma fragmentação banal da cultura em "elitista" e de "massa". 

Não quero tornar esse blog um lugar acadêmico, por isso paro por aqui com esses termos!!

Na verdade fui ingênua em acreditar no vídeo que o festival exibia todos os dias durante o evento. Não me lembro de uma frase específica dos entrevistados, mas recordo que era um discursinho do tipo - o festival é para todos, para a comunidade ouropretana.


No final, penso que o "Tudo é Jazz" de 2008 me trouxe tanta GENTE. Uma delas se chama Regina Correa, moradora do Morro do Santana. A história de nós duas ainda está em construção, acredito que sempre ficará assim... 


O próximo texto vai ser sobre ela "A menina que sempre foi gente grande"!







sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Esse blog vai ser diferente


Ontem o dia foi célere. Na verdade, estou numa seqüência de tarefas, projetos e reuniões. O trabalho me deixa num estado, digamos que de estabilidade, não no sentido "econômico"! Essa ocupação cotidiana faz com que eu esqueça, um pouco, de confusões interiores. De qualquer modo, quando volto pra casa a noite, vem a tona aquele desequilíbrio, uma dor profunda, daquelas que corroe os ossos. Já dizia Virgínia Woolf - "o acordar é o que nos mata".



 Depois da aula, resolvi alugar um filme, una película tranquila, intitulado - Julie e Julia, para não sair de casa. Têm dias que o meu lar parece um albergue, daqueles poéticos com cores vivas, toalhas floridas, quadros e músicas. Quando estava no Rio de Janeiro, no final de 2009, fiquei num albergue bastante lúdico, no bairro Catete (não lembro o nome), parecido com essa casa em que me encontro. Volvendo ao filme.

 A história é sobre duas mulheres que vivem tempos distintos. Uma delas chama-se Julia - cozinheira famosa que vivia em Paris com seu marido, no ano de 1949. A outra, Julie - personagem forte e sagaz, que quer ser Julia, a "celebridade da gastronomia". No entanto, Julie, mulher simples, divide seu trabalho entre ser secretária em uma empresa e cozinheira nas horas vagas. Ela cria um blog para contar seus testes na cozinha e também o seu cotidiano. De início, o blog não é seguido por ninguém, ao não ser pela sua mãe. Posteriormente, as páginas lotam de comentários dos internautas. Enfim, as personagens vão se entrelaçando, cada uma em seus respectivos contextos temporais e sociais. Ora as cenas se fecham na vida de Julie, ora na de Julia. O gosto pela comida, o cheiro que parece invadir a sala, paladares aguçados, e principalmente, o trabalho, são retratados no filme.

 Não vou contar o final, até porque dormi um pouco antes de aparecer o the end

Mas, o exemplo citado cabe bem, pois ontem senti a mesma sensação (imagino) que Virgínia, quando escreveu a frase que citei no início desse texto: "é o acordar que nos mata". Alguns meses atrás, essa frase andava comigo. Sentia dificuldades para escovar o dente, tomar banho, café da manhã, ou seja, a rotina maldita. Porém, o filme me instigou de tal maneira, que acordei com as seguintes palavras na testa, eis aqui as danadas: trabalho, vida, amor, "o acordar é o que nos faz viver". Foi incrível, a dor de acordar foi embora, como nuvens apressadas. 

No fim, me perguntei, por que doe tanto? Que medo é esse de viver e enxergar o globo lá fora? Por que não viver como Julia e Julie, amando suas funções cotidianas, tendo o prazer de levantar e olhar a vida de outra maneira?




quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Eu encontrei aquela beleza exótica
mistura fina de menina e mulher

seios delicados
sorriso aberto para o mundo

dentro do quadrado eu olhei...

na parede, um quadro azul, alguns instrumentos tribais
na janela, pinturas que não sei de quem são
fotos desorganizadas
uma cama de madeira fraca

no chão, papéis de todos os tipos, sapatos, malas
na estante, livros acadêmicos

novamente no chão frio, um colchão...
há quem diga que dormir no chão não é bom
mas eu gosto...