Preta e branca, colorida, zoom, zoom, zoom, zoom – Google Earth. Antes, num tempo em que a máquina fotográfica era um trambolho, coberta de panos pretos, o homem se escondia no labirinto de ângulos, BUM! Escutava um estrondo esfumaçado – a foto. Com o passar dos séculos, a câmera só foi diminuindo, o barulho nem se escutava, podia ver no interior da casa a dona Gessy com seu avental vermelho fazendo pão de queijo, ou fotografar o olho azul com rabiscos cinza da Cristina (filha do Gasparino) sentada na calçada. Depois, num toque sutil, com o dedo indicador encostado no mouse, a cidade chamada Serra do Salitre (MG), e com um leve girar, a rua Capitão Luís Manoel. E adianta tanta parafernália inventada com o passar dos anos? Onde está a ultrapassada máquina escandalosa? Por onde anda as máquinas minúsculas? Dentro de uma gaveta cheia de poeira, jogadas no lixo e esmagadas pelo caminhão da Prefeitura, ou entregues aos seus filhos. A rua, que fora de terra, de cascalho, de asfalto, ainda está lá. Tranqüila, tomada de uma simplicidade tamanha, viva, acolhedora de passos sofridos dos moradores. A rua tem cheiro de mãe, de criança, de velhinho, de escola, de açougue, de praça. Um ar que exala comida de vó – arroz quentinho, feijão fresco, ovo frito e de sobremesa – bolo de fubá. De dia passam alguns carros, carroças guiadas por cavalos cansados, a caminhonete do homem que vende pamonha. A noite, se ouve o barulho das árvores, os vizinhos conversando na janela, ás vezes um jantar para comemorar a festa da cidade. A rua Capitão Luís Manoel tem nome de autoridade, mas mandona ela não é. De tanta mansidão parece que nada evoluí, nada tem zoom. Para provar o quanto essa rua está recheada de significados e transformações, a frase de Milton Santos cai bem - “Cada lugar, é à sua maneira, o mundo”.