quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Janela nua


Depois que o Miguel quebrou o vidro do banheiro, o barulho dos carros, ônibus, carros, sirenes e sirenes entram nos meus ouvidos quase que interrompendo o meu banho. 
E quando me entrego e mergulho na cachoeira porteña, que aqui defino como chuveiro, e, em seguida fecho os olhos, o ruído ainda está aqui, como um tormento diário. O fato é que, antes os sons eram quase abafados pelo vidro, agora, o barulho estridente chega de uma vez  só até o sétimo andar do nosso apartamento na Avenida Santa Fé, em Buenos Aires. 

Passaram-se dias, noites, semanas, novembro  chegando ao final, janela nua, janela nua? O barulho, por mais incomodo, me chamava para algo:  podia ouvir sua voz "venha ver, seja curiosa". 

Dia normais, banho no final da tarde e o barulho, barulho, ruuuuulho, lhoooo, janela quebrada. Num impulso, levanto um pouco os pés e meus olhos sincronizados também com os meus pés atravessam a cidade afora. Janela quebrada. Olho a cidade aqui de cima e o céu, hoje, têm manchas vermelhas, quase tomates fritos. Interrompi meu banho e saí correndo para pegar a máquina fotográfica. Tirei algumas fotos e voltei para a cachoeira novamente. As manchas se foram depois de alguns minutos abrindo caminhos para o início da noite. 

Essa cidade tem lá os seus segredos noturnos e diurnos, ao menos daqui, do sétimo andar. Fiquei olhando por minutos, e eu confesso, muita água entrou pelo ralo. Pensei em tanta coisa e explorei portas como Amelie Poulain. 

Da janela posso ver a sacada do apartamento ao lado e logo me veio uma imagem: um cara não muito jovem com uma máquina semi-profissional começa a anotar os horários em que cada pessoa toma banho. Janela quebrada. Depois de meses, ele sabe, mais o menos, quem toma banho em tal horário. Todos os momentos íntimos são gravados, no entanto, o único plano que esse tal homem consegue captar está acima do pescoço. Numa noite, olho para a cidade, pois você já sabe, janela quebrada. Primeiro olho para frente, depois para o lado direito e de soslaio, quase não acreditando e o olho a saltar, porém, devagar, vejo um homem na sacada com uma câmera. Pensei: talvez ele esteja gravando a cidade, fazendo um documentário, não sei. Talvez ele seja um grande admirador da noite ou do dia. Talvez o arroz e o bife com cebolas esteja no fogo e ele está ali enganando a fome. Não sei, de verdade. No outro dia, entro no banheiro e janela q., e de curiosa, pois a janela está q. olho para a sacada, nada de homem, nada de câmera, nada de cebolas e arroz. 






Depois que o Miguel quebrou o vidro da janela pensei em tanta coisa e abro portas como A. P: duas janelas do hotel em frente a minha janela q., em uma a luz está normal, na outra elas piscam. Escolho a luz que pisca. Problemas elétricos? Crianças brincando de apaga acende? e a mãe gritando do banheiro "parem com isso, vocês vão queimar a lâmpada e vou ter que pagar o prejuízo". Jovens fazendo festa? Uma mulher com síndrome do pânico tentando vencer o medo do escuro? Um eletricista? Um viciado em blenflogin? 

Talvez, um dia, descreva como Roberto Artl, "las ventanas iluminadas"de Buenos Aires. Por agora, a ansiedade ganha. Faltam 16 dias, passaram-se dois dias e ainda não consegui dormir, talvez agora 9:37 da manhã. 

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Quase lá...





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Natália e Miguel