quarta-feira, 14 de julho de 2010

As formigas começaram a sair de suas casas para ver o sol.
Com pernas de agulhas, elas foram caminhando devagar.
A estação marrom estava pronta para receber as famílias que, aos poucos, descarregavam suas
bagagens adocicadas. Algumas tinham mais, outras menos. Um desequílibrio sem fim.
O trem damasco se encontrava na plataforma B.
Aos poucos a escada rolante, os banheiros e as filas ficaram entupidos.
Lá de cima se enxergava o tabuleiro de damas do tio Zeca. As formigas, o preto, os doces, o branco.
A montanha alta era o meu lugar.
Tão superficial e vazio.
Tão sem ação.
Depois de olhar aquelas loucas, resolvi descer.
Foi incrível.
Algumas não tinham visão. Mas, as formigas que conseguiam ver auxiliavam as outras.
E assim, decidi ficar para ver os milhares de  olhos, mesmo que estes não carregavam o poder da divindade funcional.
Eu vi todo aquele cartesianismo morrer.
Eu vi aquela aura mêcanica ir embora.

Um comentário:

  1. "Esse é Bernardo. Bernardo da Mata. Apresento.
    Ele faz encurtamento de águas.
    Apanha um pouco de rio com as mãos e espreme nos vidros
    Até que as águas se ajoelhem
    Do tamanho de uma lagarta nos vidros.

    No falar com as águas rãs o
    exercitam.
    Tentou encolher o horizonte
    No olho de um inseto - e obteve!
    Prende o silêncio com fivela.
    Até os caranguejos querem ele para chão.
    Viu as formigas carreando na estrada 2 pernas de ocaso
    para dentro de um oco... E deixou.
    Essas formigas pensavam em seu olho.
    É homem percorrido de existências.
    Estão favoráveis a ele os camaleões.
    Espraiado na tarde -
    Como a foz de um rio - Bernardo se inventa...
    Lugarejos cobertos de limo o imitam.
    Passarinhos aveludam seus cantos quando o vêem."
    MANOEL DE BARROS n'O GUARDADOR DE ÁGUAS

    * se vocÊ gosta de formigas, deve gostar de manoel de barros.

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