Estava no Rio de Janeiro desde o dia vinte e sete de dezembro,
fiquei muitos dias em terras “joaninas cariocas”, não é pra menos, a
cidade nos abraça e nós a abraçamos.
Para além dos mares de morros, dos corpos esculturais, da pele
bronzeada, do Cristo Redentor, dos prédios com janelas gigantes, das ruas
largas que lembram Paris, outro lado da moeda pulsa por socorro e
atenção. Essa outra história não é aquela contada pela Rede Globo, pelo
contrário, a rua não camufla nada e muito menos esconde a fome estampada nos
olhares de cada brasileiro. O cenário é triste. Sei que em qualquer outra
cidade, seja ela pequena ou grande essa miséria aparece, mas o Rio de Janeiro
tem algo diferente, talvez seja pela tamanha discrepância entre as pessoas,
seja ela qual for, financeira, social, cultural.
Alguém precisa enxergar essas pessoas que vivem a saltar em nossas mãos
quando estamos comendo um salgado ou tomando um refrigerante. Essa gente é a
gente.
Não basta comprar comida, jogar moedas dentro do chapéu e nem dar metade da
sua coca-cola. Essas pessoas precisam ser vistas mesmo que imundas, elas querem
falar o nome, contar suas histórias de vida, seus romances e tragédias. Você
faz idéia da dimensão das palavras, do quanto elas podem faze sorrir?
Não estou querendo salvar o mundo, até porque incansavelmente vou repetir
“cada lugar é a sua maneira o mundo”. O mundo é o Rio de Janeiro, a Serra do
Salitre, o Haiti ou Nova York. Nossa
luta precisa começar junto com o outro que está ao seu lado.
Dia e noite ficávamos nas ruas perambulando por entre os bairros, baladas,
praias e rodas de samba. Em Ipanema, Carol – uma amiga transcendental! - queria
comprar cigarros, pra variar eu também. Andamos umas três quadras e encontramos,
já era tarde. Numa das esquinas um dos milhões de invisíveis pediu a nossa
ajuda, ele queria comer. Enquanto a Carol comprava um lanche para ele, sentei
na sua casa – um pedaço de papelão. Fiquei sabendo em poucos minutos que sua
mãe tinha morrido a pouco tempo, que seu irmão morava em Nova Iguaçu , mas ele
nunca conseguia chegar até lá porque era raro alguém dar dinheiro e muitos
menos sentar ao seu lado. No final disse que estava em Nova Iguaçu também.
Quem sabe a gente não se encontra por lá?! Ele respondeu: quem sabe... ou
não.
Somos como eles, temos apenas realidades distintas. Mas isso não é motivo de
passar sem olhar, perguntar o nome, de iniciar um diálogo. Cada um tem o seu
tempo, eu sei que eu o meu já começou.
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