sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

"Lá tem Jesus que está de costas"


Estava no Rio de Janeiro desde o dia vinte e sete de dezembro, fiquei muitos dias em terras “joaninas cariocas”, não é pra menos, a cidade nos abraça e nós a abraçamos.
 Para além dos mares de morros, dos corpos esculturais, da pele bronzeada, do Cristo Redentor, dos prédios com janelas gigantes, das ruas largas que lembram Paris, outro lado da moeda pulsa por socorro e atenção. Essa outra história não é aquela contada pela Rede Globo, pelo contrário, a rua não camufla nada e muito menos esconde a fome estampada nos olhares de cada brasileiro. O cenário é triste. Sei que em qualquer outra cidade, seja ela pequena ou grande essa miséria aparece, mas o Rio de Janeiro tem algo diferente, talvez seja pela tamanha discrepância entre as pessoas, seja ela qual for, financeira, social, cultural.
Alguém precisa enxergar essas pessoas que vivem a saltar em nossas mãos quando estamos comendo um salgado ou tomando um refrigerante. Essa gente é a gente.
Não basta comprar comida, jogar moedas dentro do chapéu e nem dar metade da sua coca-cola. Essas pessoas precisam ser vistas mesmo que imundas, elas querem falar o nome, contar suas histórias de vida, seus romances e tragédias. Você faz idéia da dimensão das palavras, do quanto elas podem faze sorrir?
Não estou querendo salvar o mundo, até porque incansavelmente vou repetir “cada lugar é a sua maneira o mundo”. O mundo é o Rio de Janeiro, a Serra do Salitre, o Haiti ou Nova York.  Nossa luta precisa começar junto com o outro que está ao seu lado.
Dia e noite ficávamos nas ruas perambulando por entre os bairros, baladas, praias e rodas de samba. Em Ipanema, Carol – uma amiga transcendental! - queria comprar cigarros, pra variar eu também. Andamos umas três quadras e encontramos, já era tarde. Numa das esquinas um dos milhões de invisíveis pediu a nossa ajuda, ele queria comer. Enquanto a Carol comprava um lanche para ele, sentei na sua casa – um pedaço de papelão. Fiquei sabendo em poucos minutos que sua mãe tinha morrido a pouco tempo, que seu irmão morava em Nova Iguaçu, mas ele nunca conseguia chegar até lá porque era raro alguém dar dinheiro e muitos menos sentar ao seu lado. No final disse que estava em Nova Iguaçu também.
Quem sabe a gente não se encontra por lá?! Ele respondeu: quem sabe... ou não.
Somos como eles, temos apenas realidades distintas. Mas isso não é motivo de passar sem olhar, perguntar o nome, de iniciar um diálogo. Cada um tem o seu tempo, eu sei que eu o meu já começou.


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