quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Si es por buscar, mejor que busques






Me defino agora: sou passado. Minha voz mudou e meu cabelo já não sei.
Mais é que o passado está em quase tudo que falo: rua silenciosa, carroça carregando frutas, vizinha saindo de casa as cindo da manhã, avião-pássaro, pé de amora que sujava minha roupa e minha mãe faltava me matar, passar anel, futebol, cachoeira, primeiros namorados.
O passado bateu a porta e ele veio que veio sem pedir licença. Entendo o seu desespero: há que cutucar coisas, há que estourar balões, há que remexer o feijão preso a panela.


Os mineiro têm fogões de seis bocas e os paulistas de quatro. Minha mãe falava algo assim: "tanta panela, tanta mistura, esses mineiros. !Silvana! como você quer emagrecer com esse fogão de seis bocas na cozinha e tem muita gordura nessa comida".


Tenho lembrado, tenho lembrado.
E é tão forte, uma dor no peito. Ele tem me rasgado e é tão bom.


Em que canto, nesses lugares que passei, você fugiu de  mim ingenuidade?
Ó minha mãe, o que você tem feito nessa cidadezinha de Minas Gerais?


"E nós, mãe.
Aquilo que eu não fiz e tudo quis.
A tarde igual, pelo sinal.
A minha voz na dela e a tarde doe."


Eu sei que você, minha mãe, não vai a igreja da matriz. E sua coleção de orquídeas? Elas têm escutado sua voz no corredor?
Sinto sua falta e já faz tanto tempo que eu sai pra correr perigo nesse mundão de Deus, né mãe.
E você gosta tanto daquela música "Tarde em Itapuã" e eu escuto agora e canto alto.
Estou buscando, minha mãe. Parece uma busca sem fim, sem tempo pra beber água.


Si es por buscar, mejor que busques (Martín Caparrós - "El interior")