Me defino agora: sou passado. Minha voz mudou e meu cabelo já não sei.
Mais é que o passado está em quase tudo que falo: rua silenciosa, carroça carregando frutas, vizinha saindo de casa as cindo da manhã, avião-pássaro, pé de amora que sujava minha roupa e minha mãe faltava me matar, passar anel, futebol, cachoeira, primeiros namorados.
O passado bateu a porta e ele veio que veio sem pedir licença. Entendo o seu desespero: há que cutucar coisas, há que estourar balões, há que remexer o feijão preso a panela.
Os mineiro têm fogões de seis bocas e os paulistas de quatro. Minha mãe falava algo assim: "tanta panela, tanta mistura, esses mineiros. !Silvana! como você quer emagrecer com esse fogão de seis bocas na cozinha e tem muita gordura nessa comida".
Tenho lembrado, tenho lembrado.
E é tão forte, uma dor no peito. Ele tem me rasgado e é tão bom.
Em que canto, nesses lugares que passei, você fugiu de mim ingenuidade?
Ó minha mãe, o que você tem feito nessa cidadezinha de Minas Gerais?
"E nós, mãe.
Aquilo que eu não fiz e tudo quis.
A tarde igual, pelo sinal.
A minha voz na dela e a tarde doe."
Eu sei que você, minha mãe, não vai a igreja da matriz. E sua coleção de orquídeas? Elas têm escutado sua voz no corredor?
Sinto sua falta e já faz tanto tempo que eu sai pra correr perigo nesse mundão de Deus, né mãe.
E você gosta tanto daquela música "Tarde em Itapuã" e eu escuto agora e canto alto.
Estou buscando, minha mãe. Parece uma busca sem fim, sem tempo pra beber água.
Si es por buscar, mejor que busques (Martín Caparrós - "El interior")
lindo! é a vida, é essa coisa toda que somos nós, minha amiga... essa coisa que vem, que é, que foi, que pulsa, que corta, que vive, respira!
ResponderExcluirfiquei realmente emocionada, mais por saber o gosto e cheiro de cada palavra dessa... como se fossem minhas, como se fosse eu, e nós somos... um pouco parte e continuidade (des)continua na expansão dos nossos corpos/almas.
Acabei de ler seu texto para a Gabriela e para a Lívia...
ResponderExcluirE fiz um testamento...rs...falando sobre você, sobre a sua mãe, sobre a sua relação com a Serra, com São Paulo, com os seus laços familiares, com os seus amigos...enfim. E me surpreendi...rs...vi que conheço um pouco, e humildemente, de você...vi que nessas palavras você não só mantém, mas alimenta e de forma incrível esses seus afetos e amores puros...ingênuos, sim, por que não?
Não há como não te ver nas suas palavras...não há como não te sentir.
E ainda bem.
É tão difícil nos expressarmos, não?
Por mais que sejamos eficiente, como você de fato foi agora, sempre achamos que ainda não chegou ao que queríamos...
Bom, eu espero que você continue essa busca, minha amada.
Pelo blog, pelo seu livro, pelos seus olhares e gestos...estes que também falam intensamente em seu nome.
Um beijo!
Que emoção crédu! A emoção vêm com elas, as palavras, e que palavras. Tão fundas, tão rasas.
ResponderExcluirLembranças presentes, profundas que rasgam mesmo, me vira do avessso...O que dizer? O que escrever? Isso é VIDA, VIDA da mais pura e simples de se ter...
E o que importa agora se não me lembro de você na minha infância? Pois que a roda rodou e isso que sinto agora é intenso e bonito e se tivesse sentido antes o de agora não teria a importância que tem, não seria o que é...
E eu lembrei da Rafaela falando naquele dia, num bar, que nosso ano (2011), meu e seu Nati ia ser o mesmo número, lembra?
E mesmo tão diferentes, em momentos tão distintos eis que você vem falando desse tempo...
Pois saiba que o passado está aqui, nesse segundo, batendo a minha porta. E batendo forte querendo me lembrar que ele quer e vai entrar. Porque se quer saber: Esse passado faz parte, mais até do que o próprio futuro. E eu irei para ele como fui para mim, embarcarei, viajarei, me perderei nisso tudo como eu sempre quis.
Saudade gigante.
Nati como doi ver isso; mas fico orgulhosa de [voces]cada dia que passa voces vao mais longe! queria voces todos juntinhos aqui mesmo conas brigas,as implicanças mais isso tudo voce sabe ne? e porque eu amo voces!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
ResponderExcluirEstou orgulhosa!Bjs
ResponderExcluir"Sou passado..." Somos passado, fazemos um presente, para que esse seja um "belo" passado. Amei o conto. Nati, muito bom o conto. Adorei. Adriana Duarte
ResponderExcluirE como essa menina-mulher consegue emocionar-nos mesmo de longe!
ResponderExcluirLendo suas palavras consigo me arrepiar, sentir saudades, do que foi e do que virá. Acho que consigo me sentir nas suas palavras.
Quero-te sempre por perto, pra me alegrar, pra te bater, e pode ter certeza que o que o nosso grande amigo Heron não está certo, a nossa amizade não vai acabar assim, do nada, pro nada. Isso não vai ter fim tão fácil, porque foi construída com alicerce.
Continue escrevendo e nos abastecendo de bons sentimentos.
Beijos minha peruana preferida!!! Amo-te
caetano e bethânia sempre tão mamíferos...
ResponderExcluirpassado tá sempre revirando a gente, mesmo quando a gente não quer.
ResponderExcluiré a continuação do futuro sem a aflição da espera.