quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Uma história real - A menina que sempre foi gente grande

Como prometido, eis uma parte da história de Regina Correa, moradora do Morro do Santana. Em outubro vocês vão poder conferir toda a história na revista VIDE-VERSO - uma produção do curso de Jornalismo.


Estou de volta, no feriado prometi ficar um tempo longe dessa máquina preta. Mas, o Tal Cotidiano não pode parar! 



 “Eu era danada pra colar”, ela diz. Os olhos pequenos e castanhos se fecham, o desenho das rugas aparece no seu rosto e ela solta um sorriso comprido. Regina Correa não era muito boa em matemática, as contas eram rabiscadas na carteira que ela mesma carregava. A escola era na casa de sua professora em São Luís do Maranhão, cidade onde nasceu. Estudou até a quarta série, porque a escola não tinha uma estrutura adequada. O pai era poteiro (fazia filtros de barro), a mãe, dona-de-casa. A casa muito simples era feita de palha, raramente chovia, mas quando a chuva caía, a água encobria até os joelhos.
Com nove anos Regina saiu de casa, a mãe Isaura estava com 38 anos; quase a idade de Regina hoje, 37. De São Luís do Maranhão foi para o Rio de Janeiro estudar e trabalhar, depois partiu para Belo Horizonte. Sua profissão, com nove anos de idade, babá. Desde pequena a palavra responsabilidade andava com a menina, que queria ser livre e ganhar seu próprio dinheiro. A cicatriz de aproximadamente quatro centímetros perto da sobrancelha esquerda é um reflexo da busca por asas grandes.
Quando já morava em Ouro Preto (MG), ela queria a todo custo trabalhar, porém sua “avó postiça” dizia que ela tinha tudo. Regina não aceitou, logo arrumou um emprego em casa de família, e quando estava lavando a escada, caiu. A marca nunca mais saiu do rosto. Com voz de protesto ela conta “eu sujava a casa onde morava para as empregadas arrumarem e minha “avó” achar que elas não estavam limpando direito. Eu queria trabalhar no lugar delas e ganhar meu dinheiro”.
Faz 22 anos que Regina não vê a mãe; a caneta e o papel são o único meio de comunicação. As cartas e as fotos ajudam a lembrar da família. Hoje, sua mãe está com 62 anos. Sentada no quarto pequeno, ela encosta-se à cabeceira da cama de um dos cinco filhos e mostra a fotografia da mãe que parece ter 40 anos de tão conservada. Também apresentei para ela as fotos do meu pai e de minha irmã. Nas cartas enviadas pela mãe soube que teve dois filhos gêmeos, mas Regina não conhece nenhum e não lembra muito bem dos traços dos outros irmãos que ficaram em São Luís do Maranhão.
Regina não para de falar. Às vezes, fala olhando para o quintal que está de frente para a cozinha; mas na maior parte do tempo, olha fixamente pra mim.

4 comentários:

  1. o Tal Cotidiano não pode parar!

    espero receber a revista que você mencionou no meu endereço, hein?!

    mas uma vez, muito bem escrito... muito agradavel... sempre muito bom ler você!

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  2. Parabéns mais uma vez!

    Guarda a revista que eu quero ler...

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  3. muito bom, cherrie! :D adorei visitá-lo! =**

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  4. A palavra também está no cotidiano de Regina. É pelas cartas que ela se comunica com a mãe. Você e ela, irmãs de letras. Texto bom de pescaria hein? me fisgou!

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