Comprei um bloquinho e comecei a rabiscar algumas frases, frases soltas, do cotidiano.
Não sei se é mais fácil fugir ou ficar cutucando até o final da vida, até o último segundo.
E vem a morte. Já sabemos o final. Que busca mais tonta, sem sentido.
Vamos morrer. Todos. Nós.
Vocês entendem...
Vamos morrer.
Eu quero construir uma casa na fazenda, tomar um vinho em dias de inverno com os empregados e falar
sobre coisas da vida. Dormir no mesmo quarto que eles e esparramar colchões no chão. Depois acordar ao
som de qualquer música e beber uma caipirinha feita por mim. Quero ter duas filhas, negras. A primeira, Elis, a segunda, não sei.
vivenci-ar.ar
Beatriz Noronha
con-vivência.
_ Construindo Júlio?
_ É. Construindo...
Minha casa não precisa ser grande, nada de exageros, porque os sonhos , os meus sonhos são pequenos, cheios, daqueles que explodem de alegria, de vida.
E a cada dia, todos os anos, até hoje, me sinto viva. Claro, viva quando alguém me corta, mais viva quando a verdade não é dita, mais viva porque não fugi, mais viva porque no final e até no final fui eu. Perdida e lúcida. Desequilibrada e travada. Forte e invadida. Complexa, complexa até nas últimas palavras. Eu falo simples, é preciso sentir. Sentir e só.
Uma coisa é certa: uma mulher só se sente mulher quando se deleita com outra.
A natureza é tão perfeita que quando escurece, a tarde cai lentamente para que nossos olhos se acostumem
com o escuro.
_ Como está a vida?
_ Gripada.
Estou um pouco sem ar. Muito e pouco. Pouco, pouco, quase nada. Viva.
Os galos cantam, todos os galos da cidade. Nela, aqui e lá, do lado real, iluminado e vivo.
Agora é noite. O barulho da escova de dente. A noite chegou. Dormimos para nunca mais, para o amanhã.
dormimos para nunca mais.
ResponderExcluirE amanhecemos em nós, do lado dentro,
do tão dentro sem-fim.
re-olhar
olharmos-nus.
sincera
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