quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Mineiros no Chile - o espetáculo continua







Num ímpeto, a natureza responde a sua maneira o desabafo para com os seres humanos. E a vida dos 33 mineiros foi abafada pela terra da minha San José, no Chile, em cinco de agosto. O mundo inteiro e os veículos de comunicação acompanharam essa história que parecia não ter solução. Mas, quando fala-se em catástrofes, a roda coletiva não perde sua força, e deixamos para trás o individualismo que tanto prezamos por uma causa comum, a vida do outro. 


O resgate dos mineiros e toda a repercussão nos jornais, rádio, TV e internet, lembrou o famoso filme "A montanha do sete abutres" (1951), de Billy Wilder, sobre a crítica ao jornalismo sensacionalista. E pergunto ao jornalismo se existe outra forma de contar essa história de forma sensível e não espetacular?

Assim como a cobertura jornalística do 11 de setembro, nos EUA, a Tsunami, na Ásia, dentre outros episódios ocorridos no mundo, o jornalismo se vê despreparado ao cobrir tais fatos, tudo porque ele é feito por seres humanos que sentem, choram, se emocionam. Diante de uma catástrofe, até mesmo o jornalismo que se diz tão distante e neutro perde sua máscara forte. Contudo, essa emoção acaba se tornando exacerbada e a representação dos fatos vira um grande espetáculo. E o que vende mais no jornalismo está regrado ao sensacional, ou seja, da vida em risco, do sangue à morte. E quem será o culpado, o público que sustenta esse tipo de cobertura ou o jornalismo que produz tais notícias?


O reality show foi montando, quem programa as datas e o fim do jogo estão do lado de fora. O episódio dos mineiros é visto como um furo jornalístico, e dos grandes. Até um acampamento intitulado "Esperança" foi montado por jornalistas do mundo todo. Num piscar de olhos, os 33 trabalhadores da mina San José se tornam celebridades. E pensar que antes eram meros mineiros, agora estão no centro do mundo. E pergunto, será que algum jornalista contou a história desses trabalhadores antes de acontecer esse episódio? 


O espetáculo ainda continua... 



Um comentário:

  1. Me lembra também aquele livro do garcia marquez, relato de um náufrago. A história veridica relatada por Gabo na imprensa depois virou livro. O náufrago era uma celebridade "esquecida" quando Gabo escreveu o livro...Daqui a pouco veremos os mineiros em anúncios de óculos esculos...e por aí vai.

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