Olá jornalismo, aonde foram parar as histórias? Aquelas histórias de gente, de personagens que circulam incansavelmente de suas casas para o trabalho ou as fulanas que vendem verdura na rua, mendigos, donas de casa e outros (a) tantos (a) que encontramos no cotidiano. Alguns jornalistas se arriscam em ir contra o jornalismo mercadológico, padronizado, de notícias quentes. Contudo, as histórias contadas, por exemplo, pela jornalista Eliane Brum ganham espaço nas revistas ou em livros reportagens. É raro encontrar histórias da vida cotidiana nos jornais, e, se são apresentadas ao público, demonstram um caráter factual e objetivo. Nesse sentido, o jornalismo continua naquela de imparcialidade e distanciamento de seus objetos. Será esse o papel do jornalismo, o de retratar simplesmente os fatos, de se manter afastado? Somos robôs, máquinas falando de máquinas?
O jornalismo que se diz imparcial cai por terra. Um simples exemplo deslancha esse mito: quando escrevemos algo, estamos desde o início colocando o nosso olhar sobre tal assunto, fato etc. Ou seja, saímos desse lugar neutro, selecionamos de que maneira iremos fazer tal abordagem, escolhemos fontes, direcionamos a pauta.
O jornalismo é a verdade. Meus amigos, o jornalismo é pretensioso, ao mesmo tempo tão cego. Cego, porque a maioria dos jornalistas não possui um olhar de estranhamento, do sair do óbvio. O que se vê nos cadernos de cultura são cruzadinhas, agendas culturais, horóscopo e mais agendas. O jornalismo político nem se fala. Em tempos de eleição, a cobertura da imprensa parece mais um lugar de conflitos do que um espaço de debate. Fala-se, por exemplo, de escândalos anteriores e não das propostas dos candidatos à presidência.
Você se emociona ao ler o jornal Folha de São Paulo e outros tantos que circulam por aí?
Precisamos de histórias boas, aquelas que nos transportam para outras realidades distintas da que vivemos. Jornalistas colocam a culpa no tempo, fala-se da rapidez da pós-modernidade, das exigências do mercado, das tecnologias. Sou otimista, acredito que mesmo dentro desse mercado padronizado, podemos escrever de outra forma. Temos que reconstruir o jornalismo, e, é saindo desse lugar de obviedade que podemos alcançar outro lugar, um espaço sensível, e não mecânico.
Eliane Brum afirma que "como jornalistas temos que ser bons contadores de histórias reais, mas para isso temos que aprender a escutá-las primeiro".