quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Olá jornalismo, tenho uma dúvida.

Olá jornalismo, aonde foram parar as histórias? Aquelas histórias de gente, de personagens que circulam incansavelmente de suas casas para o trabalho ou as fulanas que vendem verdura na rua, mendigos, donas de casa e outros (a) tantos (a) que encontramos no cotidiano. Alguns jornalistas se arriscam em ir contra o jornalismo mercadológico, padronizado, de notícias quentes. Contudo, as histórias contadas, por exemplo, pela jornalista Eliane Brum ganham espaço nas revistas ou em livros reportagens. É raro encontrar histórias da vida cotidiana nos jornais, e, se são apresentadas ao público, demonstram um caráter factual e objetivo. Nesse sentido, o jornalismo continua naquela de imparcialidade e distanciamento de seus objetos. Será esse o papel do jornalismo, o de retratar simplesmente os fatos, de se manter afastado? Somos robôs, máquinas falando de máquinas?

O jornalismo que se diz imparcial cai por terra. Um simples exemplo deslancha esse mito: quando escrevemos algo, estamos desde o início colocando o nosso olhar sobre tal assunto, fato etc. Ou seja, saímos desse lugar neutro, selecionamos de que maneira iremos fazer tal abordagem, escolhemos fontes, direcionamos a pauta.

O jornalismo é a verdade. Meus amigos, o jornalismo é pretensioso, ao mesmo tempo tão cego. Cego, porque a maioria dos jornalistas não possui um olhar de estranhamento, do sair do óbvio. O que se vê nos cadernos de cultura são cruzadinhas, agendas culturais, horóscopo e mais agendas. O jornalismo político nem se fala. Em tempos de eleição, a cobertura da imprensa parece mais um lugar de conflitos do que um espaço de debate. Fala-se, por exemplo, de escândalos anteriores e não das propostas dos candidatos à presidência.  

Você se emociona ao ler o jornal Folha de São Paulo e outros tantos que circulam por aí?  

Precisamos de histórias boas, aquelas que nos transportam para outras realidades distintas da que vivemos. Jornalistas colocam a culpa no tempo, fala-se da rapidez da pós-modernidade, das exigências do mercado, das tecnologias. Sou otimista, acredito que mesmo dentro desse mercado padronizado, podemos escrever de outra forma. Temos que reconstruir o jornalismo, e, é saindo desse lugar de obviedade que podemos alcançar outro lugar, um espaço sensível, e não mecânico. 

Eliane Brum afirma que "como jornalistas temos que ser bons contadores de histórias reais, mas para isso temos que aprender a escutá-las primeiro".





segunda-feira, 27 de setembro de 2010

A liberdade de Alice - ficção


O relógio marcava duas e meia da manhã. Os passos no corredor marcavam o chão encerado de um vermelho vivo. Alice parou, e num momento reflexivo, pensou se entrava no banheiro ou não. Ela estava com o pacote no bolso, mas decidiu continuar. Quando chegou em frente a porta de seu quarto, leu uma frase que ela mesma escrevera - "Nada mais continuo do que andar". Então, a adolescente de cabelos pretos, magra e braços brancos, voltou ao banheiro, olhou-se no espelho e criou coragem. Tirou o pacote da calça jeans apertada, alguns resquícios caíram ao chão. O nariz pontudo se aproximava da pia branca e num ímpeto, a porta tocou. Ela interrompeu sua atividade e perguntou quem estava incomodando, era sua mãe querendo fazer suas necessidades humanas. Alice pediu que a mãe a esperasse. Encheu os pulmões, respirou fundo e tacou pra dentro aquele pó esbranquiçado. Lavou o rosto e saiu apressada sem olhar para trás. 

Alice nunca tinha tido tal experiência, mas, naquela semana resolveu se aventurar num mundo que ela considerava lúdico, mesmo sem saber se o era. Quando entrou no quarto, a mãe estava saindo do banheiro. Bateu a porta e deitou na cama dura. O quarto não era tão bonito. A escrivaninha de madeira ficava ao lado do cabide, onde colocava suas roupas sujas e algumas bolsas. O guarda-roupa era pequeno e bagunçado, não tinha espaço para mais nada, ao não ser os livros que ela tanto  cuidava. Passado quinze minutos, Alice sentiu suas mãos como nunca sentira antes e começou a fazer formas geométricas com os dedos. Depois fora a vez das pernas. Ela girava na cama incansavelmente como uma criança ativa. A testa estava suada, Alice abriu a janela, a casa tinha dois andares, embaixo a sala, cozinha e a lavanderia. Em cima, o banheiro, o quarto dos pais e o seu. 

As pernas e os braços não paravam, Alice dançou em círculos, se fantasiou com algumas roupas que achava diferente daquelas que usava no dia-a-dia. A janela ainda estava escancarada. Então, ela pulou.




Entre no site: www.stereomood.com 
Você pode ouvir músicas de acordo com a ocasião em que se encontra. Por exemplo, cozinhando, fazendo amor etc. Aproveitem!



terça-feira, 21 de setembro de 2010

Os vários "Brasis" da Banda Brasis

É como estar em todas as partes do Brasil. 
É sentir o gosto das cores vindas das camisetas coloridas.
Uma explosão de nós e da arte!

A Banda Brasis, da Paraíba, abriu na segunda-feira (20/09)  mais um dia do XIV Enearte na Concha Acústica em Ouro Preto. O frio não deu trégua, imagine só sair da Paraíba e encarar a noite dessas bandas de cá. 

A Brasis surgiu em 2009, tendo como repertório releituras de canções tropicalistas. No início, o grupo participou do tradicional "Festival Canta Torre" e do "Circuito Cultural das Praças". A partir daí, a banda começou aparecer no cenário da música popular de João Pessoa. Rafa Araújo (vocal), Milena Medeiros (violão), Eliza Garcia (bateria), Katiusca (percussão), Goes (contrabaixo) Igor D´Angelis (guitarra), Diego Souza (cello) e Marina Pessoa (malabares e figurino), fazem parte do grupo. 

A banda me fez sentir que podemos, através da música, resgatar os vários "Brasis" que temos dentro de nós. E não somente por meio das canções, mas também do figurino recheado de cores, como uma paleta de um pintor. Na Concha Acústica do campus da Ufop, uma miscelânea de ritmos se fez em meio a uma tenda de circo colorida. Imagino que a batida do maracatu, o groove, a ciranda dentre outros elementos, vão ficar enraizados no palco e em todo ambiente. 


E mais do que um resguarde a tradição brasileira, a banda transcende a essa tradição, no sentindo de reconstruir e traduzir a cultura de uma maneira própria e singular. 


No meio do show, uma roda orgânica recheada de gente do Brasil inteiro se configurou. Lá estava o fogo, reluzindo nos olhares atentos de toda aquela gente. Os fotógrafos alvoroçados clicavam ferozmente suas máquinas. O fogo criou desenhos no ar, e por um momento, senti medo daquela luz que chegava  próxima aos meus olhos. 


É como estar em todas as partes do Brasil. 


Conheça a Banda Brasis pelo site - www.myspace/bandabrasis

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Se não fosse a palavra...

O tal cotidiano é uma terapia pra mim! Aproximo cada vez mais da palavra, em seu sentido amplo. Quando iniciei minha terapia, a primeira coisa que a Lú (psicólogo) disse: "vamos trabalhar com a palavra". Fiquei com essa frase na cabeça, mas não entendia o sentido para além do literal. Depois de alguns meses, percebi o que ela queria me dizer. E aí, digo sempre para meus amigos e qualquer pessoa que converso - PALAVRA É AÇÃO. 

Depois de vários meses fazendo análise, entendi o quanto as decisões e escolhas são importantes. Até na padaria você tem que decidir entre um pão branquinho e outro mais escuro, dentre outras coisas do cotidiano. A palavra, então, era o primeiro passo. No ano passado tive que tomar remédios para depressão, algumas pessoas diziam - a Natália, aquela que sorri o tempo todo?! Pois bem, dizem por aí que essa é a doença do século. 

No início, tinha várias crises, hoje não me lembro muito bem como eram e nem o que sentia, acho que fiquei inconsciente por quase um ano, fora de mim.  Nunca tive vergonha de contar o que tinha, porque se eu falasse para as pessoas, e foi isso que fiz, acreditava que elas podiam me ajudar de alguma forma. Então, fazia questão de FALAR, não para sentirem pena de mim, mas para eu aceitar a minha condição. Porque é preciso até que se aceite a depressão, para depois disso, tentar supera-lá.

Não faço mais análise, e por isso digo que esse blog é uma terapia, aqui posso falar, contar coisas do meu dia  e de outras pessoas que me cercam. A ação está aqui, a palavra percorre universos distantes, ela vai para outro lado do mundo, ao mesmo tempo em que está tão próxima - diante dos seus olhos agora.  

A partir de hoje vou deixar dicas de blogs para vocês! No site do jornal Folha de São Paulo tem os blogs da FOLHA. Hoje dei uma passada no blog Assim como você, de Jairo Marques! Aproveitem!
 


quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Meias palavras

Uma ciranda se fez em meio a um desconcertante chão desnivelado. Não era um círculo qualquer. Num domingo frio e calmo, o samba comeu solto num palco montado em frente ao Museu da Inconfidência - Ouro Preto. As músicas pareciam agradar um bocado de gente, algumas sambavam, outras remexiam os pés discretamente, eu estava no meio termo. Aos poucos, a banda "Vira Saia" ganhou a confiança do público. O vocalista (Tuca) tocou uma música que falava sobre ciranda. Então, ele pediu para montarmos uma roda. Imagino que tinha cerca de  100 pessoas assistindo o show. Num piscar de olhos, lá estava a grande ciranda, orgânica e entrelaçada de cores fortes.



Não participei do círculo, mas senti uma energia um tanto divina vinda do meio da roda. Eu e Lorena falávamos que lá dentro tinham escravos pulando e tocando seus instrumentos, deviam estar comemorando a "liberdade". Havia espíritos de todos os tipos. Nós estávamos circunscrevendo o baile daqueles que não podemos ver, apenas sentir. 


Engraçado, não consigo continuar esse texto. As vezes as palavras não conseguem transmitir tais momentos, e, esse, é um deles. 

Só mais uma coisa, isso só acontece, dessa forma, em Ouro Preto.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Uma história real - A menina que sempre foi gente grande

Como prometido, eis uma parte da história de Regina Correa, moradora do Morro do Santana. Em outubro vocês vão poder conferir toda a história na revista VIDE-VERSO - uma produção do curso de Jornalismo.


Estou de volta, no feriado prometi ficar um tempo longe dessa máquina preta. Mas, o Tal Cotidiano não pode parar! 



 “Eu era danada pra colar”, ela diz. Os olhos pequenos e castanhos se fecham, o desenho das rugas aparece no seu rosto e ela solta um sorriso comprido. Regina Correa não era muito boa em matemática, as contas eram rabiscadas na carteira que ela mesma carregava. A escola era na casa de sua professora em São Luís do Maranhão, cidade onde nasceu. Estudou até a quarta série, porque a escola não tinha uma estrutura adequada. O pai era poteiro (fazia filtros de barro), a mãe, dona-de-casa. A casa muito simples era feita de palha, raramente chovia, mas quando a chuva caía, a água encobria até os joelhos.
Com nove anos Regina saiu de casa, a mãe Isaura estava com 38 anos; quase a idade de Regina hoje, 37. De São Luís do Maranhão foi para o Rio de Janeiro estudar e trabalhar, depois partiu para Belo Horizonte. Sua profissão, com nove anos de idade, babá. Desde pequena a palavra responsabilidade andava com a menina, que queria ser livre e ganhar seu próprio dinheiro. A cicatriz de aproximadamente quatro centímetros perto da sobrancelha esquerda é um reflexo da busca por asas grandes.
Quando já morava em Ouro Preto (MG), ela queria a todo custo trabalhar, porém sua “avó postiça” dizia que ela tinha tudo. Regina não aceitou, logo arrumou um emprego em casa de família, e quando estava lavando a escada, caiu. A marca nunca mais saiu do rosto. Com voz de protesto ela conta “eu sujava a casa onde morava para as empregadas arrumarem e minha “avó” achar que elas não estavam limpando direito. Eu queria trabalhar no lugar delas e ganhar meu dinheiro”.
Faz 22 anos que Regina não vê a mãe; a caneta e o papel são o único meio de comunicação. As cartas e as fotos ajudam a lembrar da família. Hoje, sua mãe está com 62 anos. Sentada no quarto pequeno, ela encosta-se à cabeceira da cama de um dos cinco filhos e mostra a fotografia da mãe que parece ter 40 anos de tão conservada. Também apresentei para ela as fotos do meu pai e de minha irmã. Nas cartas enviadas pela mãe soube que teve dois filhos gêmeos, mas Regina não conhece nenhum e não lembra muito bem dos traços dos outros irmãos que ficaram em São Luís do Maranhão.
Regina não para de falar. Às vezes, fala olhando para o quintal que está de frente para a cozinha; mas na maior parte do tempo, olha fixamente pra mim.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

No palco

Abrir a boca, relaxar, rodar, sentir a voz, fazer barulho, mexer o diafragma, esse é o segredo para colocar a voz no seu devido lugar. Estou fazendo uma oficina de rádio no SESI que começou quarta-feira! 
O palco foi todo nosso. E claro que antes de dar início as práticas, não pude me conter, fiz logo uma graça no palco - uma passo de balé. Depois, agradeci a platéia vazia.
É tão prazeroso sentir o próprio corpo, reconhecer seus limites e extravagâncias. Acredito que quando sentimos cada parte, inclusive a voz, partimos para um outro universo, aquele que só você entende. 
Primeiro, fizemos vários exercícios com a voz, alteramos a intensidade, o ritmo, o timbre. Ouvia-se vozes um tanto agudas, ora graves ou finas e grossas, como costumamos dizer. No início, fiquei um pouco nervosa, mas depois meu corpo estava completamente relaxado. 
No final, fizemos um círculo marcando o ritmo com os pés. O som começou a se desenhar em cada pisada no chão, até os professores entraram com suas pernas experientes. Entre passadas leves e fortes, cantávamos como crianças livres. Cada marca de sapato registrava uma identidade diversa que se misturava com outras, criando um compasso harmonioso de gente. Batemos palmas, agradecemos o mestre. 
Depois que terminou, passei na secretária do SESI e perguntei sobre a dança contemporânea. Me deu sede de palco!